13 de março de 2006

Ser da AAC!

Não nasci em Coimbra. Não cresci em Coimbra. Não puz os pés num jogo da Académica antes da adolescência. Não vivi em Coimbra até aos 14 anos! Não tenho ninguém na familia que seja sócio(a) da AAC (tirando umas temporadas nos tempos em que eu nem era nascido!). Na minha familia ninguém tem como primeiro clube a AAC! Não cresci a torcer pela AAC! Então porque raio é que enquanto vivi, estudei e cresci em Coimbra, me tornei, primeiro adepto, depois sócio e por fim fanático da AAC!?

Antes de mais, como tudo começou. O primeiro jogo a que assisti em Coimbra foi um jogo de taça AAC-Sporting. Casa cheia, no velhinho Calhabé. Perdemos 1-0 e nem sequer vi o golo já que o meu irmão não é das pessoas mais pontuais! Na época seguinte a direcção, então presidida por Campos Coroa, resolveu abrir as portas a estudantes, Universitários e não Universitários (onde eu me incluia). Na minha turma de secundário havia 2-3 jogadores do União (um deles chegou a jogar na AAC uns anos mais tarde) e havia também um grupo de pessoas que iam regularmente ver os jogos. Eu ouvia falar da grande festa que era ver os jogos e lá consegui convencer os pais a virmos mais cedo aos fins de semana para eu assistir aos jogos! E assim, comecei a ir regularmente aos jogos. Foi também por esta altura que o grupinho da bola se começou a formar! Ainda saltitava de grupo para grupo, mas com o tempo os grupo acabaram por se juntar e até há bem pouco tempo lá se conseguia juntar o útil ao agradável!

Após esta brilhante época, em que o Calhabé estava cheio de malta nova, como eu, e onde se viam muitas capas e batinas nas bancadas, resolvi fazer-me sócio! Afinal, tinhamos subido de divisão e as grandes equipas nacionais vinham jogar a Coimbra e eu queria lá estar! Lá convenci o meu pai a pagar-me as quotas, que também eram baratinhas (200$00/mês na moeda antiga!). Nas duas épocas seguintes praticamente não falhei um jogo no Calhabé. Fizesse chuva, fizesse sol, muitas vezes os estudos ficando para trás. Mas naqueles Domingos em que não ía à bola, parecia que estava a falhar um compromisso!

Só em 2000 é que dei o passo final! Primeiro jogo fora! Depois de uma fantástica noite de latada, magnífico concerto de Suede no Universitário, dormi umas horitas e meti-me no comboio rumo a Espinho para me encontrar com outros Briosos adeptos que tinham apanhado um comboio anterior. Foi uma tarde fantástica, muita alegria, uma vitória por 4-1 e uma falange de apoio considerável que não se cansou de puxar pelo clube! Depois deste jogo muitos mais se seguiram. Houve 3 que me marcaram, pelos mais diversos motivos: Estrela-AAC vitória por 3-0, Campomaiorense-AAC empate a 2 e Chaves-AAC derrota por 7 ou 8 zero! O jogo na Amadora foi a primeira vez que percebi qual a potencialidade deste clube! 3500 pessoas no estádio, 3000 da AAC! 10-12 autocarros cheios sairam de Coimbra! O resto foi de carro e chegou-nos de Lisboa e arredores! A viagem com a Mancha a Campomaior foi inesquecível. Desde sairmos com mais de uma hora de atraso, pois um dos míticos da Mancha tinha adormecido no carro em frente ao Pavilhão e ninguém o conseguiu acordar, ao dono de um restaurante, ali depois de Penela, nos apontar uma caçadeira porque uns "putos" tinham atirado um petardo para a casa de banho, ao dia passado em Campo Maior em que acabámos o almoço a comer chouriço e a beber tinto Alentejano patrocinado por um velhote sócio do Campomaiorense, ao golo do empate que surgiu quando já ninguém cantava e que levou todos, miudos e graudos a saltarem e a correrem para a vedação do estádio! Na mesma época a deslocação a Chaves, uma pesada derrota, mas o apoio dado à equipa foi aumentando à medida que o resultado se avolomando! Nessa época subimos de divisão, fomos 3os na 2a liga, quando andámos na frente mais de 2/3 do campeonato, tendo derrotado a Naval no derradeiro jogo por 2-1, no dia da minha garreiada, o que me levou a estar presente apenas na 2a parte do desafio, o suficiente para festejar o golo da vitória e realizar a última invasão de campo no Calhabé!

Durante estes anos, houve sempre algo mais que me puxava para o estádio: os estudantes. Quando subimos de divisão após o interregno de 10 anos na 2a, tinhamos 15-16 jogadores-estudantes ou já licenciados na equipa. Este número baixou sensivelmente para os 10 com o passar das épocas. Tive também um velho amigo a jogar na AAC o que me levava a torcer ainda mais pelo clube. Com João Alves e a equipa b, começaram a jogar na equipa principal os nossos miudos, aqueles cujo nome se ouvia/lia de vez em quando, mas que o comum dos adeptos não conhecia! Foi nesta altura que o apoio à nossa equipa atingiu o apogeu. Estávamos ainda na 2a, com médias de espectadores entre os 5000-10000 dependendo do tempo, do adversário e da altura do ano! As quotas e o preço dos bilhetes eram acessíveis. Os estudantes tinham o privilégio de assistir aos jogos de capa e batina no topo sul. Se fossem sócios podiam ir para a central! A equipa para além dos portugueses, era multicultural: Brasileiros, Marroquino, Albanês, Moçambicano, Angolanos, Congolês, enfim, jogadores das mais variadas nacionalidades!

Mas então subimos de divisão e aquilo que se adivinhava há algum tempo aconteceu. Tinhamos um plantel vastíssimo, jogadores dispensados jogavam na equipa-b. E quando a torneira secou de vez, deu-se a queda da direcção. Com a nova direcção, mudou o rumo do clube. Tentou-se profissionalizar ao máximo o clube, de tal modo que se descaracterizou! Os investimentos milionários (nunca antes vistos) em jogadores que pouco ou nada renderam passaram a ser o pão nosso de cada dia. O espaço para os nossos miudos no plantel principal passou a ser cada vez menor. A equipa B foi extinta, muito embora eu tenha feito tudo o que um mero associado pode fazer para o impedir. O espaço para aquela geração de jogadores que ajudou e de que maneira à ambiciada subida de divisão se desenvolverem acabou e muitos foram emprestados e passado pouco tempo penduraram as botas! Outros desistiram do sonho de jogarem futebol profissional e continuaram a jogar em clubes mais pequenos, apenas como complemento aos estudos (ainda há bem pouco tempo tive o prazer de conhecer o pai de um desses miudos que se estrearam com João Alves na equipa principal que me revelou o desânimo que se apoderou do filho quando tal aconteceu!). Pior que isto foi o que já referido grupo da bola começou a desaparecer! Mas porquê? Porque, tal como eu, muitos dos sócios da AAC não cresceram a amar só um clube! A AAC era especial, era diferente e de um momento para o outro passou a ser igual aos outros! O amor começou a desaparecer, tal qual numa relação em que um dos sujeitos muda radicalmente o seu comportamento. Infelizmente, não foram os meus colegas da bola os únicos que começaram a abandonar o estádio. Aliado ao aumento das quotas e do preço dos bilhetes, aos maus espectáculos, aos jogadores que não sabiam o que representava aquela camisola negra que envergavam, muitos mais deixaram de ir aos jogos.

Esta também não é a AAC que idealiso. Sou realista ao ponto de saber que é impossível ter uma equipa profissional constituida somente por estudantes, mas revolta-me o pouco que tem sido feito para manter os poucos que ainda existem ou aqueles jogadores com muitos anos de casa que sairam do clube para ganhar menos que as supostas vedetas contratadas ganham no clube! Acho que se dá muito pouco valor à chamada prata da casa!

Para terminar, vou-me referir aos adeptos "camaleões", nos quais, segundo a definição daqueles que se dizem verdadeiros académicos, onde eu me incluo. O que diz a definição? Um camaleão é aquele que muda de cor conforme o ambiente em que está, ou seja, curto e grosso, que tem mais que um clube! Eu, como a maioria dos sócios e adeptos da AAC (só não vê quem não quer) tenho outro clube, por todo o historial que referi anteriormente. Na altura em que ainda andava a maturar o meu academismo ainda torci pelo outro clube nos confrontos entre ambos, mas jamais na bancada dos sócios! Hoje em dia, não torço por nenhum quando os dois se encontram! Acho que é a melhor forma de resolver o conflito interno por que passo! Nem todos tiveram o privilégio de nascer Académicos, e aqueles que se apregoam verdadeiros Académicos não compreendem isso. Mas a maioria desses também nunca fizeram nada pelo clube, passam a vida a dizer mal dos jogadores e inclusivé a assobiá-los. Só aparecem quando as câmaras ou os jornalistas lá estão. No fundo o quero dizer é que compreendo perfeitamente aqueles que nos jogos contra os chamados três grandes não puxam pela AAC, mas que raio, se nos outros 32 jogos eles lá estiverem a puxar pela equipa, se tiverem uma intervenção Académica consentânea com os valores da instituição, porque raio é que hão-de ser insultados, humilhados enfim, escorraçados por aqueles que no fundo, são da mesma familia, apenas de um ramo diferente!?

Muitos adeptos pensam como eu, outros nem tanto, fruto da necessidade de resultados que ambicionam. Eu não consigo puxar por esta equipa da mesma forma que puxava pela do Febras, do Mickey, do Dário, do Tó Sá, do Lucas porra até do João Campos (nada contra o homem, apenas não gostava do jogador!) e de muitos outros. Uns desistem à espera que novos dias mudem a coisa, outros como eu, talvez porque a distância (no meu caso) impossibilita o confronto com a nova situação, vão resistindo. Entretanto, as bancadas vão ficando mais vazias, nem com as novas promoções lançadas em Janeiro isto melhorou!

Desalentado, mas esperançado que melhores dias virão.

Abraço Académico para todos,

R. Carvalho

Post publicado também no blog Simplesmente Briosa em 3 de Março de 2006.

1 comentário:

Anónimo disse...

E foi um sucesso no SB.